Meio ambiente: há mais políticos envolvidos, diz delegado Dois funcionários da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) esperavam nas cadeiras do corredor serem recebidos pelo delegado Cláudio Joventino, na última segunda-feira, 10. Coordenador de Inteligência da Polícia Federal (PF) e responsável pela Operação Marambaia, ele tem recebido visitas diárias de pessoas interessadas nos desdobramentos do caso. Depois de atender os dois funcionários, um promotor chegou à procura dele.

“Desde a semana passada tá um sufoco danado”, comentou no corredor um funcionário da PF, referindo-se às pessoas que Joventino estava recebendo nos últimos dias. O delegado aceitou receber a equipe do O POVO. Em dez minutos de entrevista, disse: “Estou falando demais”. A investigação segue sob segredo de Justiça.

Apesar do pouco tempo para um caso tão complexo, o delegado revelou que os gestores responsáveis pelo meio ambiente no Ceará que foram presos mantinham uma “relação promíscua” para tentar enganar o Ministério Público, que outros políticos estão envolvidos e que novas prisões podem acontecer se houver necessidade. (Daniel Sampaio)

O POVO – A Operação Marambaia trouxe à tona muitos questionamentos em relação à própria Polícia Federal (PF), como a prisão dos gestores que tratam das questões do meio ambiente no Ceará.
Cláudio Joventino – Quem avalia não é o poder policial. No primeiro momento, era necessário (prender) para colher todas as provas para que aqueles gestores não interferissem no processo.

OP – Só foram presas autoridades dos governos federal, estadual e municipal. Há o outro lado, que são os empresários. Por que essas pessoas também não foram presas?
Joventino – Não quer dizer que não venham a ser. Nós entendemos que, naquele momento, que quem poderia prejudicar as investigações eram os gestores. A qualquer momento, qualquer prisão pode ser solicitada, dependendo da necessidade. Se a polícia e o Ministério Público entenderem pela conveniência, vai representar ao juiz.

OP – Já se pode dizer quanto em dinheiro está envolvido?
Joventino – Não tenho idéia. O dano maior é o dano ambiental. É pública e notória no Estado do Ceará a concessão de licenciamento em área de preservação permanente.

OP – Além dos documentos apreendidos, foram feitas gravações também. São gravações dos gestores com empresários?
Joventino – Tem várias gravações. Com essa medida, conseguimos nos convencer que estava havendo uma certa relação promíscua entre esses gestores, inclusive para induzir o Ministério Público Federal ao erro.

OP – A questão da combinação de depoimentos.
Cláudio – Não só combinar depoimentos, como omitir informações, resultado de laudos, se articularem com terceiros para tentar mudar o posicionamento do Ministério Público Federal. Tudo isso aconteceu. No nosso entender, esses interesses defendidos pelos gestores do meio ambiente, esses interesses particulares, se sobrepunham ao interesse público. Esse é o maior problema. O interesse da defesa do meio ambiente estava em segundo plano e prevaleceram interesses de grupos empresariais.

OP – O senhor acha que o problema está no modelo para liberação das licenças? Esse modelo dá muito poder aos gestores? O modelo que é ruim ou o problema está nessas pessoas envolvidas?
Joventino – O modelo é ruim e suscetível a esse tipo de coisa, esse tipo de favorecimento ao particular em detrimento ao meio ambiente. São contratadas pessoas, profissionais particulares, grandes empresas e consultoria e essas consultorias são pagas para isso e têm tendência em tentar viabilizar os projetos. Dificilmente você vai encontrar um parecer desse inviabilizando um projeto no Estado do Ceará. Os órgãos do meio ambiente não deviam se ater em estudos, mas sim aos laudos técnicos realizados pelos… Se ater, mas dentro de uma consonância com os laudos técnicos da instituição, que são os peritos oficias.

OP – Além desses gestores que estão sendo investigados, a operação deverá chegar a outros políticos?
Joventino – Não posso citar nomes, mas havia ingerências políticas.

OP – Não só desses gestores?
Joventino – Havia ingerências de particulares e de pessoas políticas nas administrações.

OP – Nas três esferas?
Joventino – Nas três esferas.

OP – Elas podem ser alvo de prisões?
Joventino – Não sei, isso aí cabe ao Ministério Público decidir se constitui alguma irregularidade. Nada vai ser omitido, tudo será esclarecido.

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