Em editorial, o jornal O POVO destaca a ação dos integrantes do Gecoc e da promotoria de Jaguaretama para garantir a punição dos crimes de execução. Leia a íntegra

O pedido de transferência para Fortaleza de dois júris de pistoleiros (previstos para serem realizados nas comarcas de Jaguaretama e Jaguaribara), solicitado pelo Ministério Público ao Tribunal de Justiça do Estado (TJ) pelos representantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gecoc) e do promotor de Justiça de Jaguaretama, está sendo recebido com aplauso pela opinião pública cearense, sobretudo pela população da Região Jaguaribana. A iniciativa é encarada como uma boa oportunidade para transformar esse tipo de providência em rotina, daqui para frente, como parte da estratégia de enfrentamento do crime organizado.

O pedido de desaforamento de júris da comarca original para outra mais segura é uma providência recomendável, sempre que a questão de segurança esteja em causa. No caso em vista, os jurados estão envolvidos por um clima de constrangimento em vista da ação desinibida de um grupo de pistoleiros que tem aterrorizado a Região Jaguaribana. São dois bandos rivais que se confrontam há cinco anos e acabaram transformando a população dessa área em refém de sua truculência. Um seria comandado pelo pistoleiro Antônio Charles Barreto, o Charlim, do grupo dos chamados “Filhos do Senhorzinho”. O outro acusado é Gilnei Carlixto Pinheiro, do grupo alcunhado de “Filhos de Antônio de Isaías”. No meio, fica a população indefesa que já testemunhou quase 30 execuções, nesse período – todos, aparentemente, por desavença banal – segundo o Ministério Público. Só em 2007 foram mortos oito componentes de cada lado.

Para por fim a essa barbárie, que faz o Ceará regredir ao século XVIII (época em que os trabucos imperavam nos sertões) foi criada uma força-tarefa, pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para ajudar o Ministério Público a desbaratar a ação dos criminosos. Por conta disso, foi possível colocar as mãos em vários integrantes das duas quadrilhas. Dois destes pistoleiros vão agora a julgamento, o que gerou um clima de grande pressão psicológica sobre os jurados.

Recomenda-se, pois, que os julgamentos ocorram o mais distante possível da área conflagrada e onde possa haver o máximo de isenção e de garantias para o corpo do júri. Fortaleza é o lugar mais apropriado para fornecer essas condições, por ficar fora do alcance da ação dos dois bandos. Não adiantaria apenas transferir o julgamento para cidades vizinhas.

Na verdade, a transferência desses júris para Fortaleza deveria ser a estratégia adotada para enfrentar o crime organizado, no Ceará, e espera-se que o Tribunal de Justiça esteja sensível a isso. O crime organizado só pode ser enfrentado – como demonstrou a Itália – por meio de instrumentos diferentes dos usuais. Cabe à Justiça dar todo apoio às medidas reclamadas pelas forças encarregadas de dar um basta à ousadia dos criminosos.