Em artigo opinativo, o promotor de Justiça Herton Ferreira Cabral comenta o aumento do número de vereadores nas Câmaras Municipais, aprovado pelo Senado. Leia a íntegra O Senado protagonizou uma opera buffa madrugada adentro. Sem pudor, os senadores aprovaram o aumento do número de vereadores das câmaras municipais. No Brasil, mais de sete mil novas vagas; no Ceará, mais de oitocentas acolheriam os suplentes. Com unhas e dentes, as bancadas defenderam a lorota, destacando-se a arenga de certo senador comunista. Do antigo defensor das causas populares só resta o brocardo latino: O tempora! O mores!

Quem teve estômago e assistiu àquela sessão percebeu os lordes tupiniquins escamoteando a realidade para atingirem objetivos indesejados pela sociedade, tanto que não se melindraram de passar uma carga de cavalaria ligeira sobre a melhor parte do projeto aprovado na Câmara Federal, a qual reduzia mísero meio ponto percentual nas despesas das câmaras.

De fato, o aprendiz de soba baiano removeu o único lenitivo da matéria não prioritária, facilitando que os membros da Câmara Alta se livrassem do tedioso fardo das contínuas pressões dos suplentes. Livre do mecanismo de compensação, foi fácil aprovar o projeto, transferindo o peso para as costas dos contribuintes, sem considerar que esse aumento de hoje possa ampliar amanhã, ainda mais, a já excessiva participação das câmaras na receita pública municipal.

Sendo a patranha publicamente delatada, inclusive com a afirmação do Presidente da República que não vê, no aumento do número de vereadores, a solução dos problemas das cidades brasileiras, o caso parece encaminhar-se para outra vertente. É a vez agora de o Supremo Tribunal Federal decidir e enterrar as abusivas pretensões da categoria de políticos que, trombando sempre a cidadania, deseja fazer prevalecer seus interesses pessoais, esvaziando e reduzindo o legítimo e necessário debate político apenas à questão marginal de mais vagas de vereadores, sem se ater à necessidade de diminuição das despesas públicas.