Editorial do Jornal O POVO de hoje ressalta a importância da formação de uma comissão do MP para investigar denúncias que abalam a credibilidade da Polícia Civil.

O POVO – Editorial

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A intervenção da Procuradoria Geral de Justiça nas investigações que vão apurar o mais recente escândalo na Polícia Civil é recebida com alento pela sociedade.

A sociedade recebe com satisfação a notícia de que a Procuradoria Geral de Justiça determinou a formação de uma comissão especial do Ministério Público (MP) para realizar investigações sobre as denúncias que estão abalando a Polícia Civil do Ceará. A iniciativa é muito bem-vinda, pois abre a perspectiva de se assegurar um mínimo de credibilidade às apurações.

Só a atuação isenta e rigorosa de um órgão fiscalizador externo à Polícia levaria a sociedade a se sentir mais tranquila. Essa já é a função constitucional do MP & o controle externo da Polícia -, mas, neste presente caso, há a necessidade de uma atuação mais profunda, articulada e de maior envergadura.

Ao que tudo indica integrantes da segurança pública, enojados com o que testemunham no interior do aparelho policial – além de outros interessados em colocar rivais em dificuldades -, têm comparecido aos espaços da Internet (interagindo com blogs, colunas e páginas noticiosas e opinativas) para revelarem as entranhas da instituição, inclusive dando nomes aos bois. Naturalmente, é preciso muito cuidado com esse tipo de informação, nem sempre honesta. Contudo, uma investigação séria poderia muito bem separar o joio do trigo, nos indícios por ventura existentes, se houver determinação política para isso.

As aparências deixam entrever que a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social está cometendo um grande equívoco ao não afastar dos cargos de responsabilidade todos os implicados, sem exceção. Ao não fazê-lo, fragiliza a credibilidade das investigações. O afastamento é um procedimento corriqueiro no serviço público quando algum funcionário é alvo de suspeição. Sobretudo, quando ocupa uma posição de influência que possa de alguma maneira incidir sobre os procedimentos investigativos. Comprovada a improcedência das acusações, sua volta ao cargo é acompanhada de maior prestígio. O que não se pode é emitir uma mensagem dúbia, que deixa a opinião pública confusa e inquieta, na medida em que encontra incoerências nas iniciativas tomadas pela autoridade responsável.

Na verdade não é a primeira vez que isso é dito neste espaço, nos dois últimos decênios & não seria desdouro aceitar uma força-tarefa federal para fazer uma investigação completa no aparelho policial como um todo (Polícia Civil e Polícia Militar), pois se acumulam ao longo dos anos denúncias da maior gravidade que indicam forte gangrena nos organismos da Segurança Pública e Defesa Social.

De qualquer forma, a atitude corajosa e responsável da Procuradoria Geral de Justiça é um alento para uma opinião pública ainda desolada e frustrada com tudo o que tem visto de condenável nesse segmento & e que parece permanecer intocável – nestas últimas duas décadas. Se o MP agir com autoridade e desassombro terá por trás de si a respaldá-lo a maioria absoluta dos cidadãos que querem uma limpeza em regra nessa área.