Jornal O POVO publica reportagem especial sobre a situação alarmante da saúde pública em Aracati. Matéria é baseada em Ação Civil Pública assinada por promotores da comarca.

O POVO

Saúde em Aracati – ”A história de terror das biópsias…”

Demitri Túlio
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Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), em Aracati, podem ter agravado seus quadros de doença e até morrido por causa de 735 biópsias que não foram realizadas. Muitas delas são de 2004

O descaso com a saúde pública em Aracati, distante 148 km de Fortaleza, beira o macabro. Ou como prefere o promotor da comarca, Alexandre de Oliveira Alcântara, é caso de “terror” e está expondo a população de lá e de mais quatro municípios – Beberibe, Fortim, Itaiçaba e Icapuí – ao risco de morte. Uma Ação Civil Pública, assinada por Alcântara e mais dois promotores, na última quarta-feira, 1º, expõem o fundo do poço em que o município chegou.

Entre centenas de problemas “estarrecedores” investigados por Alexandre Alcântara, o documento revela que Secretaria da Saúde do Município de Aracati “mantinha um estoque de várias partes de corpos humanos (vesículas, apêndices, alças intestinais, ovários, úteros, fragmentos de colo uterino e pele) apodrecendo dentro de vidros em que o formol já havia evaporado devido ao tempo de espera por biópsias”. Exames que nunca foram enviadas para exame em laboratório.

Na ponta do lápis, segundo denúncia do médico Arthur Ferreira Uchoa, do hospital Dr. Eduardo Dias, principal unidade de saúde do município e apontado como hospital polo pelo Governo do Ceará, 735 biópsias deixaram de ser feitas. Muitas delas, segundo o enfermeiro Ronaldo da Silva Oliveira, estavam na fila desde 2004.

Dos 735 pedaços de corpos humanos abandonados na sala do Centro de Saúde Reprodutiva e no hospital municipal, 151 peças apodreceram. Um prejuízo, segundo Alexandre Alcântara, irreparável para quem até hoje não sabe ou não deu tempo saber se tinha uma doença grave. Pacientes com suspeita de variados tipos de câncer e outras patologias.

A falta de zelo da Secretaria da Saúde de Aracati com doentes que usam o Sistema Único de Saúde (SUS) no município, também foi constatado pela enfermeira Jussara Santos Vieira da 7ª Regional de Saúde do Estado do Ceará (Cres). Ela disse aos promotores que “essa situação pode ter causado graves danos à saúde das pessoas, pois foram submetidas a exames invasivos e necessitavam da realização dos mesmos para diagnósticos precisos”.

Apesar de muitas das amostras terem sido retiradas de pacientes há seis anos, a secretária da Saúde de Aracati, Adélia Maria Araújo, afirmou que só tomou conhecimento do problema em julho de 2008. E apenas em fevereiro deste ano, encaminhou 100 peças para o laboratório Klaus Magno.

Adélia Araújo afirmou que desde 2004 havia um convênio com a Secretaria da Saúde do Estado a fim de serem realizadas 65 exames por mês. Mas “que esse número nunca era atingido por conta da dificuldade do sistema estadual. Como não havia efetivação do agendamento das 65 biópsias, houve acúmulo do material a ser periciado”, explicou a secretária da Saúde de Aracati, em depoimento ao Ministério Público.

ENTENDA A NOTÍCIA
Segundo o Ministério público, o Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias, em Aracati, trata de maneira “desumana e degradante” os pacientes de Beberibe, Fortim, Itaiçaba e Icapuí. Uma população estimada de 151.924 pessoas