Janot: “Eu não conheço o processo, preciso ler e examinar”
O novo procurador-geral da República será escolhido até julho por Dilma e caberá a ele atuar perante o Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento final do mensalão. O mandato do novo procurador-geral será de dois anos. A estimativa é a de que o caso seja julgado no ano que vem. Dilma escolherá, portanto, não apenas o chefe do MPF, mas também o procurador que vai atuar diretamente na conclusão do caso mais rumoroso do governo do presidente Lula.
Gurgel é o favorito para continuar no cargo. Além de ter a preferência dos procuradores, pois obteve a maior votação na eleição da ANPR, na última quarta-feira, com 454 votos, é considerado discreto pelo governo. Lula sempre indicou o mais votado pela ANPR e seguiu essa prática mesmo depois de o então procurador Antonio Fernando Souza pedir ao STF a abertura de processo contra os 40 réus do mensalão. Ele foi reconduzido por Lula para a chefia do MP depois de denunciar José Dirceu, que foi chefe da Casa Civil de Lula, e José Genoíno, então presidente do PT.
Hoje, são 38 réus, pois um morreu (o ex-deputado José Janene) e outro (o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira) fez acordo com a Justiça para prestar serviços comunitários e se livrar do processo.
Na eleição da ANPR, Janot conseguiu 347 votos e Ela obteve 261. Ambos concordaram com Gurgel de que não houve demora na tramitação do processo. "Não houve demora na acusação", disse Ela. Para a subprocuradora, Antonio Fernando foi protagonista no caso do mensalão, pois entrou com a denúncia que foi aceita pelo STF. "Uma das razões da demora foi o foro privilegiado. Há também o grande número de réus e a posição política deles", apontou Ela.
Ela Wiecko: "Ainda não há o que endossar, não conheço as provas"
Para Janot, um dos motivos da demora é que o STF não é um tribunal preparado para ações originárias (que começam na Corte, como o caso do mensalão), e sim para uma atuação de revisão (de analisar recursos de outros tribunais). "São muitos réus e há questões complexas. Mas, conheço os profissionais (do MPF) que atuam no caso e são os melhores da casa."
Curiosamente, o candidato que foi mais enfático ao endossar a denúncia do mensalão não está na lista da ANPR. É o subprocurador Antonio Fonseca, apoiado por Geraldo Brindeiro, o procurador que, por oito anos, comandou o MPF. Brindeiro foi indicado sucessivas vezes para o cargo pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e a sua gestão foi criticada pelo arquivamento de denúncias envolvendo governistas.
"A hipótese de não endossar a denúncia é remotíssima", afirmou Fonseca, que não teve votos suficientes para entrar na lista tríplice. Para ele, o processo do mensalão é "excepcional pelo grande número de agentes e de advogados envolvidos usando todo o tipo de chicana". "Não é surpresa que um caso dessa complexidade demore a vir a público e ser julgado", lamentou Fonseca. "Mas, é crucial que se observe as garantias normais (da defesa). Do contrário, o trabalho estará perdido", concluiu.