Confira artigo do promotor de Justiça Walter Filho sobre a PEC 37, veiculado hoje no jornal O Povo. PEC 37 – A faca sutil
A natureza humana é constantemente alimentada pelo “desejo de poder”, e nesta procura incessante vale tudo. Quando o desejo é molestado, nasce o ressentimento, advindo daí toda sorte de expedientes ao alcance dos incomodados na trilha da vingança. Nos últimos 24 anos, uma instituição chamada Ministério Público irritou muita gente – desde os celerados mais rudes aos emplumados delinquentes das cortes políticas.
É hora de calar o MP, e nada melhor do que começar sutilmente com o impedimento nas investigações policiais, deixando-o distante de apurações que facilmente serão manobradas pelo poder político. Afinal, o delegado é retirado de uma apuração pelo despacho de um superior – quando não deveria ser assim. A aprovação recente de lei exige uma motivação e o afastamento deve ser fundamentado.
A aprovação da famigerada PEC 37 é o alimento que os ressentidos necessitam. Serão intocáveis no primeiro patamar de suas ações delitivas diante de qualquer gesto dos promotores e procuradores. O caminho não é a disputa de “egos” entre promotores e delegados na condução da investigação, e, sim, a junção de forças para tornarmos o Brasil uma nação possível na punição dos detratores da lei.
Os membros do Parquet fizeram uma manifestação simbólica no Distrito Federal, mas, sem o apoio da sociedade e de esferas da imprensa, seremos todos nós esmagados pelo rolo compressor dos mascarados da vida pública – os políticos sérios são minoria na luta contra essa chancela da impunidade.
Os ouvidos de hoje não são receptivos para tantas verdades escancaradas nos meios de comunicação. Tanto que condenados pela mais alta Corte do País legislam em causa própria, revelando assim o predomínio de uma moral de animais de rebanho na atual República. O que fazer diante de um mundo de tantas incertezas? Aprova-se ou não a PEC? Alguns parlamentares falam de sua aprovação fácil, outros dizem que não passará – aprovada, o tempo dirá o quão foi cruel o grito das almas vulgares.
Walter Filho
Promotor de Justiça
Fonte: O Povo/CE