Guimarães espera convencer os colegas O deputado José Guimarães (PT) vai ter que convencer os integrantes da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa cearense, até o dia 5 de agosto próximo de que não está envolvido no caso da prisão do seu ex-assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva com R$ 200 mil em bolsa de viagem e mais 100 mil dólares na cueca. Dependerá do entendimento dos dirigentes da Assembléia a abertura ou não do processo disciplinar que pode culminar com a cassação do seu mandato, segundo a representação feita à Mesa por deputados do PSDB. Na última sexta-feira, Guimarães deu uma entrevista para os repórteres Josafá Venâncio e Roberto César, a seguir

Diário do Nordeste – O que o senhor vai dizer à Assembléia para evitar a abertura do processo disciplinar no Conselho de Ética?

José Guimarães – Vou aguardar a conclusão dos trabalhos da Polícia Federal. Isso é muito importante. A linha que eu tenho que trabalhar é a minha defesa. Vou mostrar por onde eu estive em São Paulo e em Brasília, onde eu me hospedei, quais são os tíquetes de passagens, por onde eu andei, para provar a minha total inocência. Pelo que conheço do presidente Marcos Cals (PSDB) e pelo que conheço da Casa, ela jamais abrirá qualquer processo disciplinar sem provas contundentes. Até agora, não teve absolutamente nenhuma prova do meu envolvimento neste episódio. É isso o que eu vou fazer, recompor as forças, as minhas energias, para retomar o trabalho no começo de agosto.

Diário – O senhor acredita que, neste prazo de quinze dias, há condições de reunir material suficiente para convencer?

JG – Imagine a bancada do PSDB querer fazer um processo político. É estranho, não existe isso no parlamento. Quando você abre um processo disciplinar contra um deputado é porque tem provas e fatos concretos. É isso que eu vou mostrar. Tenho todas as evidências de que eu estou isento de qualquer participação neste episódio. Evidentemente que os inquéritos são muito importantes. Eles demoram, mas as evidências são grandes. Veja o que saiu no Diário do Nordeste. A manchete conclui dizendo que, até agora, o Ministério Público não tem nenhum indício de envolvimento do deputado Guimarães. Não sou eu que estou dizendo, é o Ministério Público. O que eu espero é que tudo isso seja esclarecido. Só tenho uma certeza, que foi um ex-assessor meu. O fato de um assessor ter sido flagrado num episódio lamentável como esse, até que se prove o contrário, por que me incriminar sem ter nenhuma prova?

Diário – O senhor não teme uma cassação

JG – Não temo porque não tenho nenhuma culpa. A verdade tarda, mas não falha. A Assembléia é muito séria para querer fazer um processo de caça às bruxas.

Diário – O senhor vai dizer no Ministério Público e na Polícia Federal algo a mais do que disse para a imprensa?

JG – Não vou dizer nada mais porque eu não tenho nada além do que eu já disse na mídia. Desde o começo, a minha história tem uma linha, que indica a verdade dos fatos. Não posso, não estou guardando algo para soltar. O que aconteceu foi isso, em São Paulo e aqui. Aos poucos, as nuvens pretas que foram se montando estão se desconstituindo.

Diário – E na Comissão de Ética do PT, o senhor vai prestar depoimento?

JG – Não tive nem tempo, a minha preocupação é com a Assembléia. Só pelo fato de eu ter sido citado nas entrevistas e nas versões, ou por envolver o meu ex-assessor, evidentemente que estou à disposição para prestar todos os esclarecimentos ao PT, como já fiz espontaneamente. Fui à Assembléia prestar esclarecimentos, sem ter obrigação, ao Conselho de Ética e à Mesa Diretora. A opinião pública do Ceará tem dúvidas se eu estive ou não envolvido nisso e eu pretendo esclarecer tudo para provar a minha inocência.

Diário – O senhor já fez uma avaliação pessoal sobre como vai se conduzir na Assembléia a partir de agosto?

JG – Não tem nenhum fato que comprove o meu envolvimento. O fato ocorreu com o assessor e, por decorrência, me envolveram nesse negócio. Nunca subi na tribuna para acusar ninguém sem provas. A minha postura na Assembléia foi como deputado da oposição, que era e que sou. Sempre mantive uma relação institucional muito democrática, muito aberta com o governador, que é do PSDB. Nunca tive essa posição de bater por bater. Bater quando era necessário, nos parâmetros democráticos, dentro dos mecanismos que o parlamento dispõe. Essa é a minha postura, e isso é o que eu vou continuar sendo.

Diário – O senhor, em agosto, retomará a liderança do PT na Assembléia?

JG – Quando for 1º de agosto, a gente avalia. O momento é mostrar a minha inocência.

Diário – Petistas ligados ao ex-presidente do PT no Ceará José Airton Cirilo dizem que o dinheiro que o Delúbio Soares afirma ter enviado para a campanha do PT, em 2002, não chegou e teria ficado pelo caminho. O que o senhor sabe sobre isso, já que mantinha uma ligação estreita com a direção nacional do PT?

JG – Fui candidato a deputado estadual em 2002 e deixei a presidência do PT em 2001. O companheiro Almeida era tesoureiro e quem coordenou financeiramente a campanha do PT foi o companheiro Mota. Portanto, eu vi as explicações e fico com as explicações que foram dadas. Minha preocupação é tratar do problema que me envolveu. As pessoas responsáveis tratam disso.

Diário – O senhor teve conhecimento da vinda desse dinheiro?

JG – Não tive conhecimento e nem qualquer participação nisso. A entrevista é sobre esse fato que me envolve aqui no Ceará, não queria misturar isso. Eu não era coordenador da campanha, apenas coordenava politicamente as questões do Nordeste. Fui muito solidário com o companheiro José Airton, não tenho nada que falar sobre isso.

Diário – Nem sobre a ajuda do diretório nacional à candidatura de Luizianne?

JG – Também não tenho. Eu estava apoiando a candidatura de Inácio (Arruda) no primeiro turno. Outras pessoas apoiaram a Luizianne. Tanto ela quanto o José Airton é que têm que falar, não sou eu.