Severino dá 3 versões sobre contrato que o compromete ESCÂNDALO DO “MENSALÃO”/ A HORA DO “MENSALINHO” Presidente da Câmara diz que pode ter assinado documento que beneficiaria empresário

VERA MAGALHÃES ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), deixou de lado ontem sua disposição de não falar a respeito das denúncias de que teria recebido “mensalinho” de um concessionário da Câmara.

Em menos de três horas, apresentou três versões diferentes para o documento apresentado pelo ex-gerente do restaurante Fiorella, Izeilton Carvalho de Souza, que teria sido assinado por ele. Questionado sobre o documento ontem durante sua viagem oficial a Nova York, Severino primeiramente negou sua existência. Logo em seguida, porém, fez uma ressalva. “Eu não assinei esse contrato. E se assinei, é um contrato normal, que deve estar junto com toda a documentação”, afirmou, pouco antes do início de um almoço oferecido por ele aos presidentes de parlamentos de países de língua portuguesa. Poucos minutos depois, ao ser novamente questionado sobre o suposto contrato, Severino foi ainda mais reticente. “Tenho de ver o original. O ônus da prova cabe a quem denuncia”. A terceira versão foi dada quase três horas depois, na saída do almoço. Dessa vez, o pepista disse que o contrato “não existia”, era falso. “Aquele documento não existe. Mas, se existe, é uma falsidade. Documento como aquele eu não assinei”, afirmou. Percebendo que podia ter caído em contradição sobre o assunto que não pretendia abordar na viagem aos EUA, Severino pediu aos repórteres para ser “resguardado” de perguntas sobre a crise, que deveriam lhe ser dirigidas depois que voltasse ao Brasil. O presidente da Câmara afirmou que, caso parlamentares de oposição apresentem o pedido de cassação de seu mandato, pretende “enfrentá-los”. “Essa decisão [de pedir a cassação de seu mandato] eles [oposição] já tomaram várias vezes. Que continuem tomando, porque estou pronto para enfrentá-los”. “Sou um homem que não tem problemas. E quem não tem problemas não pode ter angústia”, afirmou.

Severino descartou a possibilidade de encerrar antes do tempo previsto a viagem a Nova York para voltar ao Brasil e se defender das acusações. Disse que vai cumprir “religiosamente” todos os compromissos, que incluem um discurso na 2ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, previsto para amanhã. Severino insistiu na tese de que Sebastião Buani desmentiu que tivesse pago a ele R$ 10 mil mensais para manter a concessão do restaurante da Câmara. À noite, na entrada de uma recepção para a comunidade brasileira, Severino acusou a revista “Veja” de ter pago para ter as acusações contra ele. “Isso não existe. A “Veja” está comprando. Houve um leilão entre as revistas e a “Veja” comprou denúncias falsas.”

À Folha a revista negou ter pago para obter o relato das acusações e disse que jamais adota tal procedimento. As revistas “Época” e “IstoÉ” afirmaram, no fim de semana, terem sido procuradas por supostos interlocutores de Buani que estariam dispostos a vender informações sobre o “mensalinho”.