Estagiário desvia R$ 3 mi do INSS

De repente, a vida do estudante de Direito George Waldemiro Moreira Filho, de 18 anos, mudou. Primeiro, o estagiário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) saiu da casa dos pais. Depois, passou a andar com segurança e contratou até uma governanta para cuidar de seu novo lar: um apartamento de 400 metros quadrados na Rua São Vicente de Paula, em Higienópolis. O aluguel de um ano inteiro – R$ 100 mil – ele pagou adiantado.

Mas o jovem não parou por aí. Para quem não tinha nada até um ano atrás, o patrimônio do rapaz crescia a olhos vistos. E ele não fazia questão de esconder nada, nem mesmo dos colegas de trabalho. Não foi de se estranhar que ele atraísse a atenção da Polícia e do Ministério Público Federais e da Inteligência do INSS. Em pouco tempo os investigadores descobririam o milagre por trás daquela vida de milionário: o estudante estava pondo a mão em dinheiro da Previdência Social. Ao todo, Moreira havia se apropriado de R$ 3 milhões.

Com o dinheiro de benefícios fantasmas, o estagiário passou a circular com carros importados. Não se contentando com um Audi, comprou logo três diferentes – um A6, um A4 e um A3 – e, com medo da violência na cidade, mandou blindar todos. Adquiriu ainda outros veículos para a sua garagem. Foram um Golf, que ele também blindou, um Astra e um Fiesta.

O estudante incluiu ainda entre seus gastos a compra de TV de plasma, móveis de luxo e roupas de grifes. Era tão visível a mudança que um colega de trabalho decidiu denunciá-lo à área de Inteligência do INSS, que informou a PF e o MPF.

Os federais descobriram que o estagiário, que trabalhava no órgão desde 2003, usava uma senha especial, que só um chefe de posto do INSS pode ter, para entrar no sistema de pagamentos da Previdência Social. O estudante incluía benefícios para amigos e parentes, nos quais ele sempre aparecia como o sacador do dinheiro. Os pagamentos eram de cerca de R$ 50 mil cada.

Com base nessas informações, os agentes conseguiram oito mandados de busca e apreensão e a prisão temporária do acusado na 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Percebendo que não tinha alternativa, o estagiário se apresentou na sede da PF anteontem.

Foi logo interrogado e disse que resolveu desviar o dinheiro da Previdência porque era muito explorado e ganhava pouco no trabalho. O estagiário, que também tinha preocupações estéticas – fez uma plástica no nariz e uma lipoaspiração -, contou que decidiu, então, ir à forra.

Moreira acabou indiciado pela PF sob as acusações de estelionato contra a Previdência Social, inserção de dados falsos no sistema da Previdência e lavagem de dinheiro. Ele é ainda investigado soba a suspeita de formação de quadrilha. O estagiário afirmou no interrogatório que sempre agiu sozinho no posto, mas a PF quer saber como ele obteve a senha para entrar no sistema, além de apurar se ele recebeu ajuda para lavar o dinheiro.

Na tarde de ontem, os agentes fizeram um balanço do trabalho e calcularam que conseguiram recuperar R$ 2 milhões do dinheiro desviado. Todos os carros comprados pelo acusado foram apreendidos. Aparelhos eletrônicos, móveis e roupas também foram levados pelos federais. Eles impediram ainda um último gasto do estagiário: a compra de um sofá de R$ 42 mil. O móvel ainda não havia sido entregue e a loja aceitou desfazer a venda do mimo, a pedido dos agentes federais.